Estudo Da Criatividade

ontem fui à sua casa e descobri que não era mais sua. estive cozinhando pra você, mas apareceu uma senhora germiniana com dois filhos, um cachorro, uma bolsa de couro, três sacolas de supermercado, além do senhor germano. eles apreciaram a comida como você apreciaria, o que me deixou aliviado: não perdi herbes de provence. confesso que pensei em suicídio, mas sei que você ainda está viva pelo recado que deixou no meu celular hoje de manhã, cobrando aquele dinheiro que você insiste em dizer que lhe devo, não devo, é o que fui lhe dizer, mas descobri que você não mora mais lá. onde afinal você mora? depois fui à casa da sua mãe e confirmei a existência de serendipitismo na nossa vida; ela estava dando para alguém que não era seu pai e nem eu me toquei de interrogá-lo a respeito de sua identidade (tampouco sou eu autoridade para tanto): se as últimas palavras que dediquei a você foram – “filha da puta” – lhe fio que eram parte da minha forma de expressar os sentimentos que nutria por você, mas nunca, ou pouco, imaginei que fossem verdadeiras e que portanto deixariam de atingir você diretamente, para, também diretamente estalar na então rodada testa da senhora sua progenitora. agradeço a ela pelos docinhos que me foram presenteados e por aquela cueca lavada; agradeça-a você também por ela maternalmente tirar esse peso das suas costas: puta, ela. ainda assim não consegui que ela me falasse o local da sua residência corrente; ela estava de boca cheia, entenda-me você que entende do bem do assunto. não tive outra opção senão gastar o pouco dinheiro que tenho – obrigado – para subir no pão-de-açúcar, andar no bondinho e despender intermináveis horas e r$ a investigar toda a superfície terrestre e aquática com aquelas lunetas turísticas por aquela calcinha amarela com os dizeres broxantes – “é um pintinho amarelinho” na frente, e “cabe aqui...” atrás – que você faz questão de pendurar nas janelas de todos lugares que freqüenta, como se fosse um labrador demarcando território – ah, sim, o cão da senhora germiniana era um labrador gold bobo e inútil, como de resto são todos os animais de estimação, necessariamente; doutro modo não seriam referência para que seus donos possam se iludir na sonhada superioridade. aliás, como vai o serpente, o chiuaua mais fedido do universo canino? bem, tampouco encontrei seu sinal amarelo, e tive preguiça, como sempre, de me posicionar no lado oposto ao meu ponto-de-observação, até porque eu não sabia qual poderia ser tal outro ponto. tentei dizer a um helicóptero de turista que sobrevoava todo nós que eu era o sucessor natural do bill gates da microsoft, mas tive o azar dele próprio ser um dos passageiros – ou ao menos foi isso que ele me falou, não sem certo desprezo pela minha condição de potencialidade, e ainda por cima falsa. se fosse você, me tomaria a mão e me soltaria a 45 milhas oceânicas para além do mar territorial brasileiro: mais uma prova de que nos amamos, de que devemos ficar juntos, com ou sem hematomas, até que o primeiro se suicide, deixando um bilhete assim:

- “ DESISTI “ -

nunca é tarde para.... a reconciliação, VAI??